Átopos Editorial nasce em 2023 tendo como propósito — para fazer jus ao nome — a busca do insólito no pensamento e nas letras — em filosofia, literatura, poesia.

Convencidos de que o insólito, por sua própria definição, foge ao habitual, ao convencional e ao oficial, nos dedicamos a prospectá-lo por veredas inauditas, às margens, nas periferias, nos becos, nos subsolos, em lugares inexplorados que são heterotopias privilegiadas: espaços de encontro e diálogo na alteridade e na diferença.

Seja na literatura, na poesia ou na filosofia, o insólito tem o poder de nos arrancar ao automatismo da experiência ordinária e nos fazer vislumbrar o paradoxo que consiste na estranha familiaridade das coisas, ou, inversamente, na sua familiar estranheza (unheimlich).

Em busca do insólito no pensamento e nas letras, encontramos no Leste europeu, e particularmente na Romênia, um rico manancial cultural e espiritual. Átopos Editorial tem, no seu DNA, um interesse especial por autores romenos e do Leste europeu em geral, contemporâneos e de épocas passadas.

ἄτοπος

Átopos é um adjetivo do grego antigo que possui uma ampla gama de significados: raro, estranho, insólito, inusitado, extravagante, esquisito, absurdo, extemporâneo, etc. Etimologicamente, seria “sem lugar”, “fora de lugar”.

Platão emprega o termo para descrever Sócrates em seus diálogos. No Teeteto, Sócrates diz: “Eu sou totalmente esquisito (átopos) e não faço senão criar aporias”. No Górgias, Cálicles, após ouvir de Sócrates um discurso sobre sarnas e coceiras, afirma: “Tu és absurdo (átopos), Sócrates”.

O substantivo que lhe corresponde, ἀτοπία (atopia, distinto de utopia), significa coisa inaudita ou inédita, novidade, raridade, estranheza, paradoxo.

O insólito

Outra tradução possível de átopos é o adjetivo “insólito”. Segundo Clément Rosset (1939-2018), “insólito designa, segundo a etimologia, tudo o que é inusual e foge ao ordinário. A palavra mesma me diz algo de mais e de menos: ela me sugere, com efeito, algo raro, mas de uma rareza especial e incisiva que não se resume em uma simples média baixa na avaliação estatística da frequência dos seres.” Após uma longa reflexão, Rosset conclui:

Parece-me que um objeto insólito tem como característica principal a de romper com o conjunto dos objetos entre os quais figura e formar, por assim dizer, uma espécie única, aparecer como forasteira e sobreposta, ao modo de uma peça acrescentada ou de uma nota falsa: como um marciano tomando chá em um pub londrino, uma monja participando dos trabalhos do Partido Comunista (parece que há algumas), um trator agrícola pavoneando-se no meio de um salão burguês, como em Le Minotaure de Marcel Aymé, ou, enfim, como o pequeno detalhe que não se enquadra ao conjunto dos fatos a ele relacionados e que, por esta mesma razão, acaba chamando a atenção da polícia.

Principes de sagesse et de folie

Átopos denota singularidade, diferença, extravagância, esquisitice. Pode ser Sócrates ou Cioran. Como o absurdo, o paradoxo também é uma paixão. Átopos Editorial nasce dessa paixão e a ela se dedica. A atopia é a nossa divisa: o insólito nas letras.