Sousândrade: estética e educação

Nessa história, Sousândrade ocupa o lugar já clássico (apesar de bastante romântico) do poéte maudit, à margem, lido e louvado post-mortem. Como, aliás, ele mesmo adiantou quando, num dos prefácios ao poema O Guesa, escreveu: “Ouvi dizer já por duas vezes que ‘o Guesa Errante será lido cinquenta anos depois’; entristeci — decepção de quem escreve cinquenta anos antes”. Podemos ler esta frase como uma fábula, através da qual o poeta “inventa” o seu leitor no futuro ao anunciá-lo cinquenta anos antes. Como uma mensagem na garrafa lançada ao mar da posteridade, podemos imaginar que, cinquenta anos depois, aqueles que a encontrassem na areia da praia se sentiriam legitimados e escolhidos como leitores, imbuídos de uma missão: mostrar ao mundo o seu achamento.

Marília Librandi Rocha, “O ‘caso’ Sousândrade na história literária brasileira”, in: Revista USP, nº 56, dezembro/fevereiro 2002-2003, pp. 213-214.

“Um espírito originalíssimo para seu tempo”, segundo Alfredo Bosi, inclassificável e incompreendido, subestimado e deixado de fora do cânone literário brasileiro como um poeta “menor”: Sousândrade é ainda pouco lido e conhecido, um enorme gênio poético em contínua redescoberta, como uma terra incognita em solo pátrio.

A diversidade de epítetos inventados para descrever o autor d’O Guesa atesta a singularidade da sua palavra poética, a natureza proteiforme e controvertida de sua obra: um poeta da segunda geração do romantismo brasileiro, “um poeta a reboque dos condoreiros”, “um poeta inepto com as formas literárias”, “um terremoto clandestino”, um “antropofagista avant la lettre”, entre outros. A poesia de Sousândrade não pertence ao passado da literatura brasileira (século XIX), mas ao futuro de uma nação cuja construção é em grande medida poética e literária. No tocante a Sousândrade, o devir está sempre por vir, “qual do passado sobrevindo, n’essa ferocidade que ao futuro arremessa o presente, enorme, infindo…”

Sousândrade: estética e educação é um convite à (re)descoberta da poesia do nosso Guesa maranhense, que não pertence ao passado, mas ao futuro da nação brasileira. A vida e a obra de Sousândrade se entrelaçam com a história do nosso país, na virada de um passado imperial, monárquico e escravocrata, a um porvir republicano, democrático e, em última análise, utópico.

Trata-se de um aporte crítico à obra poética de Sousândrade, reunindo excertos do seu grande poema épico, O Guesa, além de outros poemas, incluindo também uma biografia do poeta, uma extensa bibliografia crítica e outros textos de caráter propedêutico. Incluem-se propostas temáticas, diretrizes metodológicas e linhas de pesquisa possíveis para uma educação estética pautada na poética sousandradina.

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